Ateísmo e Marxismo






esse texto é produto de seminário apresentado no evento 
Socialismo e Religião, realizado pelo Psol Curitiba em 9 de dezembro de 2015

à Margheritta Hack, 
ateia, vegetariana, astrofísica e comunista

Introdução
O socialismo tem uma relação antiga e muito próxima com o ateísmo. De acordo com Mikhail Bakunin, "a ideia de Deus implica a abdicação da razão e da justiça humanas; é a negação mais decisiva da liberdade humana, e, necessariamente, termina na escravização da humanidade, na teoria e na prática." Ele inverteu o famoso aforismo de Voltaire de que se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo, escrevendo que "se Deus realmente existisse, seria necessário aboli-lo.". Marx dedicou a segunda edição do capital “A Charles Darwin, de um autêntico amigo seu.”. Seu herói, que admirava, era a figura mitológica Prometeus, que roubou o fogo da criação dos deuses e entregou-o aos humanos. Engels também admirava Darwin. Ambos iniciaram suas trajetórias como materialistas ateus, sob a influência de Feüerbach.

Com Stalin, a URSS se tornou oficialmente ateia e começou a criar restrições às práticas religiosas. Com Kruschev, existia uma campanha anti-regilião. Quando Yuri Gagarin chegou ao espaço pela primeira vez suas palavras foram “a terra é azul e não vi nenhum Deus”. Ainda se debate se ele disse de fato a segunda parte da fala, uma vez que pode ter sido uma adição do governo. Não à toa que o ateísmo é tão identificado com o comunismo e o marxismo por seus opositores.

O ateu hoje no Brasil sofre com preconceito, repulsa dos crentes, com a não laicidade do Estado, da mídia, do trabalho, de nenhum espaço. Ateus são o grupo que mais causa repulsa e antipatia, segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo de 2009 sobre preconceito.
Outro episódio aconteceu no programa de José Luiz Datena. Após ofensa a ateus, Band foi obrigada a exibir campanha sobre liberdade religiosa, lembrando que o Estado brasileiro não tem religião oficial. Apesar da repulsa, esse tipo de preconceito não se traduz numa opressão, por dois motivos: o ateu não é identificável e em quase todos os casos, trata-se de uma pessoa com escolaridade alta e de classe média ou alta. No entanto, a repulsa a esse pensamento é clara.
A religião (e sua ausência) após 2001 ganhou centralidade nos debates de ideologia mundo afora, após 11 de setembro. E o ateísmo mundialmente entrou um uma nova onda de posicionamentos. De repente, o debate sobre Deus se tornou importante novamente.

O Novo Ateísmo ou ateísmo liberal
Daniel Dennett, Sam Harris, Richard Dawkins e Christopher Hitchens são os quatro cavaleiros do novo ateísmo. Dennett é cientista estuda a ciência congnitiva e é professor universitário. Sam Harris é também neurocientista, autor de “A Morte da Fé”. Richard Dawkins, autor do livro “Deus, um delírio”, é biólogo evolucionista, trouxe importantes contribuições para o estudo do fenótipo estendido. Christopher Hitchens, por outro lado, começou a ter como central sua militância ateísta após o 11 de setembro de 2001.
Seus debates são sempre colocados como uma disputa entre religião versus ciência. Entendem a religião como um modo de explicação da realidade e é possível resumir sua crítica na teoria do Deus das Lacunas. Segundo essa explicação, não podemos colocar aquilo que não sabemos cientificamente como Deus, pois a ciência pode com o tempo descobrir as lacunas do conhecimento. Eles fazem uma importante defesa da laicidade da educação e da pesquisa científica.

veja a explicação de Neil Degrasse Tyson sobre o Deus das Lacunas

Crítica

O marxista inglês Terry Eagleton em seu livro “Razão, Fé e Revolução” faz uma contundente crítica aos autores do novo ateísmo, especialmente Dawkins e Hitchens. Segundo Eagleton, os dois possuem uma visão Yeti da fé. Imaginam a questão “você acredita em Deus?” como se fosse igual a questão “você acredita no Yeti? ou no Monstro do Lago Ness?”. Essa versão do ateísmo defende a Ideologia do progresso (progresso com "P" maíusculo): Dawkins afirma que as pessoas do século XX estão muito à frente moralmente que suas contrapartes na Idade Média ou mesmo em 1920. Eles possuem uma Superstição do Progresso. Imaginam que a teoria cristã da criação tem algo a ver com como o mundo se originou, mas essa doutrina não fala sobre essa perspectiva, o sentimento religioso não pode ser resumido na régua científica da razão. Seria o equivalente a ler Moby Dick como relatório científico sobre caça de baleias.
Por que Deus voltou ao debate agora? A resposta de Eagleton é que foram os atentados de 11 de setembro de 2001 que fizeram ressurgir o debate. O fim da história de Francis Fukuyama - as grandes narrativas que caracterizam a modernidade estavam acabadas, o que restou foi um pragmatismo pós-ideológico, capitalista. Porém, curiosamente, a ação desse capitalismo acabou resultando numa nova grande narrativa: a criação de um mundo muçulmano radical e o Estado Islâmico. Um novo oponente metafísico, com suas verdades absolutas. Sociedades de mercado são inerentemente seculares, mas para fazer a guerra contra o islamismo radical, voltam ao discurso de defesa do cristianismo, embora se coloquem numa posição contraditória, como nos EUA, a terra mais materialista e mais metafísica do mundo ao mesmo tempo (baseada nos valores de Deus, família, nação e liberdade).
O questionamento da religião por parte do novo ateísmo se enquadra nesse movimento pós-moderno. O erro do pós-modernismo, segundo Eagleton, é colocar toda convicção apaixonada como dogmática, é cético com relação não a esta ou aquela fé, mas a fé ela mesma. Toda certeza é autoritária. Esse secularismo liberal acabou por ajudar a gerar o fundamentalismo e são lados da mesma moeda. Dawkins e Hitchens só pensam na fé como algo anti-racional. Eles veem o problema como apenas intelectual, mas o islã radical é um problema referente ao capitalismo ocidental, foi a quebra da esquerda liberal e secular no mundo árabe que criou o vácuo para o islã radical crescer, os EUA ajudaram e foram coniventes à morte de mais de meio milhão de liberais de esquerda no oriente médio, segundo Eagleton. É a ação do EUA no Iraque que uniu dois campos que eram opostos antes, o Baathismo (secular e originalmente aliado a URSS) e os Sunitas radicais, que formaram o Estado Islâmico.
Essa noção de vencimento da civilização contra a barbárie se remete, na verdade, ao período de ascenção da burguesia. Esses contos universalistas são revividos pelos liberais de um modo mais instável, tardio. Isso se traduz num supremacismo cultural contra o islã, o que não consiste na melhor maneira de lutar contra o fundamentalismo. É uma reação errada pois o islã radical não é motivado por religião, mas por política.
Eagleton conclui, então, que o novo ateísmo pertence à ala intelectual da guerra ao terror, especialmente levando em conta as defesas que Hitchens fazia da invasão ao Iraque (embora, justiça seja feita, Dawkins sempre tenha se oposto a essa política). Esses liberais, que defendem tanto a diversidade e tolerância, foram os primeiros a defender uma versão rebaixada de iluminismo como reação ao terrorismo. Denunciam os crimes do islã, mas passam sem falar nada dos crimes do ocidente. O mito do progresso é a superstição supremacista desses autores - diferentemente do marxismo, que mostra a modernidade como uma grande liberação e também, ao mesmo tempo, como uma grande opressão, e defende progresso com "p" minúsculo.
Essa oposição entre razão e fé nem sempre dá muito certo. No Brasil, alguns religiosos usam um discurso pseudocientífico para se opor ao que chamam de ideologia de gênero. Ao mesmo tempo é de se notar que é muito curioso que os crentes caiam na arena dos cientistas. O campo do debate entre os dois é científico, o que os crentes dizem para rebater os ateus são noções pseudocientíficas, muitas vezes ridículas, como por exemplo “você não consegue provar a não existência de Deus”, “a ciência não explica o propósito do mundo”, assim como as “teorias” do design inteligente ou do próprio criacionismo como um modo de explicação racional da realidade.

Ponderações

O novo ateísmo tem todos esses graves problemas, que trazem contradições e pressupostos que são prejudiciais e alheios a uma visão transformadora e radical do mundo em que vivemos. Mesmo assim, possuem pontos positivos, que não podem ser ignorados, especialmente no debate de educação.
O deputado Pr. Marco Feliciano (PSC-SP), em 2015, é autor de um projeto de lei para incluir o ensino do criacionismo - crença na criação a partir de um ser metafísico, ou seja, Deus - na grade escolar. Em entrevista, chega a afirmar: Por que meus filhos podem aprender a teoria da Darwin, que é só uma teoria? Se não fosse uma teoria, seria uma coisa comprovada. É só uma teoria, que ninguém consegue reproduzir em laboratório.”. Na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, as coisas não são tão diferentes. Deputado Artagão Júnior quer ensino do criacionismo na rede estadual de ensino do Paraná, em projeto de lei de 2015 também. Segundo o deputado, não há nada que garanta que a teoria da evolução realmente ocorreu. Por isso não haveria motivos para que o criacionismo não seja discutido pela comunidade escolar. Em pesquisa de 2010 da Datafolha, concluiu-se que 59% dos brasileiros acreditam em evolução guiada por Deus, contra 25% que acreditam no criacionismo e há apenas 8% de evolucionistas.
Com esse contexto (em que se vendem canetas milagrosas que fazem você passar em concurso, em que o papa encoberta casos de pedofilia da Igreja, em que Netanyahu diz que Hitler teve a ideia da solução final por sugestão de líder palestino, em que radicais islâmicos jogam homossexuais de prédios para matá-los), é importante que cientistas e acadêmicos tomem esforços para fazer uma educação científica emancipadora, para que seja feita uma defesa do estado laico e da educação laica. Concordo com Dawkins de que essas posições extremadas do radicalismo religioso debocham do próprio conceito de educação, pois cultivam e se nutrem da ignorância e da miséria física e intelectual para lucrar em cima da miséria espiritual. E lucram muito. Também por isso, defendendo o Estado laico, devemos ser contra a isenção de impostos para igrejas como pauta principal. Nesse sentido, concordo com Terry Eagleton de que o novo ateísmo decorre da religião ela mesma (e não só do 11 de setembro), que está muito intolerante, rebaixada e tosca. Eles ganharam os Dawkins e Hitchens que merecem.

Marxismo e ateísmo

Quando Marx era jovem, fazia parte de um grupo chamado de neohegelianos de esquerda, que fazia uma crítica à filosofia de Hegel com base no pensamento de um colega deles, chamado Ludwig Feüerbach. Para atacar a filosofia de Hegel e o Estado da Prússia da época, que era monárquico e teocrático, Feüerbach vai fazer uma crítica contundente da religião, em seu livro “A Essência do Cristianismo”.
Ele é um materialista. Para ele, a doutrina de Deus devia se transformar na doutrina do humano, a teologia devia se transformar em antropologia. A questão é que a religião inverte sujeito e predicado, não é Deus que fez os homens, mas os homens que criaram Deus. Eles criam essa imagem abstrata e colocam nela características e elementos que são propriamente humanos. Deus é uma forma de abstração Abstrair significa colocar a essência da natureza para fora da natureza e a essência do homem para fora do homem. Ao fundar todo seu sistema nesses atos de abstração, a filosofia de Hegel alienou o homem de si mesmo.” (Agnes Heller). Mas essa abstração oprime os humanos, porque essa criação se volta contra eles. O humano se empobrece ao projetar sua essência em Deus e não mais a reconhecer sua própria essência como propriedade sua. Transforma-se em criatura de sua própria criação. Veja, Deus é onipotente, onisciente e onipresente, mas essas são características eminentemente humanas, do gênero humano.
Marx foi profundamente influenciado por esse pensamento em sua juventude. A frase que temos como mais comum do que ele tem a dizer sobre religião é que ela é o ópio do povo. Primeiramente, essa frase já circulava desde Kant, Bauer, Feüerbach, não é do próprio Marx, foi usada antes pelo poeta Heinrich Heine “bendita seja uma religião que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíficas gotas de ópio espiritual, gotas de amor, fé e esperança”. Cabe ressaltar que o ópio era um calmante para dores e para dormir, nao era ainda uma droga recreativa, na década de 1840. Em 1843, Moses Hess, comunista amigo de Marx, disse “a religião pode tornar suportável a consciência infeliz da servidão, da mesma maneira que o ópio é de uma grande ajuda nas doenças dolorosas”.
Mas em que contexto Marx fala sobre isso? Influenciado por Feüerbach, em 1844, ele escreve o belíssimo texto Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, que foi publicado nos Anais Franco-Prussianos. Vale a pena transcrever a primeira página desse texto, na edição da Boitempo:

“A crítica da religião é o pressuposto de toda a crítica.
A existência profana do erro está comprometida, depois que sua celestial oratio pro aris et focis foi refutada. O homem, que na realidade fantástica do céu, onde procurava um super-homem, encontrou apenas o reflexo de si mesmo, já não será tentado a encontrar apenas a aparência de si, o inumano, lá onde procura e tem de procurar sua autêntica realidade.
Este é o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o autossentimento do homem, que ou ainda não conquistou a si mesmo ou já se perdeu novamente. Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, seu compêndio enciclopédico, sua lógica em forma popular, seu point d’honneur espiritualista, seu entusiasmo, sua sanção moral, seu complemento solene, sua base geral de consolação e de justificação. Ela é a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui uma realidade verdadeira. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.
A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo.
A supressão [Aufhebung] da religião como felicidade ilusória do povo é a exigência da sua felicidade real. A exigência de que abandonem as ilusões acerca de uma condição é a exigência de que abandonem uma condição que necessita de ilusões. A crítica da religião é, pois, em germe, a crítica do vale de lágrimas, cuja auréola é a religião.
A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem suporte grilhões desprovidos de fantasias ou consolo, mas para que se desvencilhe deles e a flor viva desabroche. A crítica da religião desengana o homem a fim de que ele pense, aja, configure a sua realidade como um homem desenganado, que chegou à razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo, em torno de seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não gira em torno de si mesmo.
Portanto, a tarefa da história, depois de desaparecido o além da verdade, é estabelecer a verdade do aquém. A tarefa imediata da filosofia, que está a serviço da história, é, depois de desmascarada a forma sagrada da autoalienação [Selbstentfremdung] humana, desmascarar a autoalienação nas suas formas não sagradas. A crítica do céu transforma-se, assim, na crítica da terra, a crítica da religião, na crítica do direito, a crítica da teologia, na crítica da política.

Importante ressaltar que Marx não vai defender um tipo de militância ateia, o que tem muita relação com a interpretação de Lenin sobre a questão religiosa: “O marxismo é materialismo. Como tal, ele é tão implacavelmente hostil à religião como foi o materialismo dos enciclopedistas do século XVIII ou o materialismo de Feuerbach. Isso é fora de dúvida. Mas o materialismo dialético de Marx e Engels vai além dos enciclopedistas e de Feuerbach, pois aplica a filosofia materialista para o domínio da história, para o domínio das ciências sociais. Devemos combater a religião, que é o ABC de todo o materialismo e, consequentemente, do marxismo. Mas o marxismo não é um materialismo que parou no ABC. O marxismo vai mais longe. Temos que saber como combater a religião, e para fazer isso temos de explicar a fonte da fé e da religião entre as massas de uma forma materialista. A luta contra a religião não pode ser confinada a pregação ideológica abstrata, e não deve ser reduzida a tal pregação. Ele deve ser ligado com a prática concreta do movimento de classe, que visa eliminar as raízes sociais da religião
Porém, essa concepção de Marx em 1844 é incompleta, é pré-marxista, ignora a história e a luta de classes. A partir da Ideologia alemã e das Teses Contra Feüerbach, Marx desenvolve sua filosofia da práxis, entre 1845 e 1846. Religião é entendida como uma das várias formas da ideologia ou da produção espiritual de um povo, como o direito, a política, arte, etc.. Existem duas formas de relaciona-la com as classes, uma vai dizer que é um mero reflexo das relações de produção, outra, mais interessante, diz que temos que explicar a gênese das diversas formas da consciência a partir das relações sociais, o que permite representar a coisa na sua totalidade e examinar também a ação recíproca dos seus diferentes aspectos.
Em 1850, Marx diz que “é claro que toda transformação histórica das condições sociais produz ao mesmo tempo a transformação das concepções e das representações dos seres humanos e portanto de suas representações religiosas”, elas, portanto, são históricas. Os críticos falavam para Marx que na idade média era a religião que predominava, na antiguidade, a política, e não a economia, tentando tachar Marx como economicista. Ele respondeu no Capital “a Idade Média não podia viver de catolicismo nem a Antiguidade de política. As condições econômicas dessa época explicam, ao contrário, porque o catolicismo e a política jogaram neses dois casos o papel principal”.
Marx e Engels fazem uma superação dialética da visão do ateísmo dos enciclopedistas franceses (anticlericalistas, como Dallambert) e dos feuerbachianos, são os primeiros a colocarem a luta de classes, as relações de produção e a história no entendimento da religião e por isso os primeiros a fazerem uma análise sociológica da religião e não apenas filosófica desse fenômeno.

Conclusão
Recentemente, Zizek escreveu um artigo para o jornal New York Times com o título “O ateísmo é um legado pelo qual vale a pena lutar”. Em “os irmãos karamasov”, Dostoiévski alertava sobre o perigo de um mundo sem Deus, defendendo que se Deus não existe, então, tudo seria permitido. Zizek diz exatamente o oposto. O terrorismo sunita mostra que se Deus existe, aí então é que tudo é permitido, inclusive explodir pessoas inocentes - a relação com Deus justifica qualquer violação de refreamentos humanos. Quando escreveram a Constituição da União Europeia, europeus debatiam se deviam mencionar o cristianismo como um legado de suas sociedades, mas Zizek afirma que o legado mais precioso da Europa seria o ateísmo. A Europa moderna é a primeira e única civilização em que o ateísmo é uma opção plenamente legítima e não um obstáculo. Faço das suas conclusões, as conclusões deste seminário:
Enquanto um verdadeiro ateu não tem necessidade de apoiar sua própria posição provocando crentes com blasfêmia, ele também se recusa a reduzir o problema das caricaturas de Maomé ao respeito às crenças de outras pessoas. O respeito às crenças dos outros como o valor maior só pode significar uma de duas coisas: Ou tratamos o outro de forma condescendente, evitando magoá-lo para não arruinar suas ilusões, ou adotamos a posição relativista de vários “regimes da verdade”, desqualificando como imposição violenta qualquer posição clara em relação à verdade.
Mas que tal submeter o Islã – junto com todas as outras religiões – a uma respeitosa, mas por isso mesmo não menos implacável, análise crítica? Essa, e apenas essa, é a maneira de mostrar verdadeiro respeito aos muçulmanos: tratá-los como adultos responsáveis por suas crenças.

Bônus - vídeos interessantes sobre o tema:


Este é o vídeo que Datena foi obrigado a passar


Daniel Sottomaior (presidente da Atea) é sabatinado por religiosos


Zizek fala sobre ateísmo e marxismo (legendas em espanhol)


Terry Eagleton apresenta suas críticas ao Novo Ateísmo (em inglês)


Richard Dawkins debate com Cardeal George Pell em 2012 (em inglês)

Margheritta Hack fala sobre ateísmo e ética (em italiano)

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