De Volta para o Futuro: fansástico não, fantasia... sim.
No dia 21 de Outubro de 2015, o jovem Marty McFly chegava do ano de 1985 ao "futuro". Em "De Volta Para o Futuro II", esse futuro é outra realidade, onde os avanços tecnológicos transformaram a sociedade: são carros e skates voadores, roupas que secam sozinhas, hologramas em três dimensões, etc. Além disso, a paisagem da cidade é limpa, arborizada, modelo - no futuro, as condições materiais não são mais um problema.
Podemos nos lembrar também da animação norte-americana dos anos 1960 "Os Jetsons", em que além de carros voadores que se dobram em uma mala compacta, já na abertura duas coisas ficam claras: o dinheiro continua existindo e enquanto o homem vai trabalhar, a mulher "rouba" seu dinheiro para passar o dia no shopping. Enquanto a empregada doméstica é um robô, o cachorro é quase um humano.
O que não dizer então do programa "Mundo do Futuro" do canal Discovery. "Chegar assim aos 150 anos? Nada mal. Que tal um encontro íntimo? A distância... Ir voando para o trabalho? Uma roupa que o torne mais forte? A ciência mudará sua vida, muito antes do que você possa imaginar. Fantástico sim, fantasia... não".
O que esses três exemplos da TV nos mostram é como há uma constante promessa de que a tecnologia é a grande salvadora das mazelas do mundo e que as forças produtivas continuam a se desenvolver numa progressão geométrica infinita: o fim da história eterno - o mundo do futuro, que avança numa escada rolante interminável.
Tanto que no De Volta Para o Futuro II, o único problema é uma sombra do passado, seu inimigo Biff, que perverte toda a bonança do mundo moderno. Quebrando a regra fundamental, ele desonestamente atenta contra a livre iniciativa: volta ao passado para entregar para sua versão mais jovem os resultados de anos da loteria, utilizados para enriquecer o vilão e transformar o paraíso tenológico num caos de uma vida vazia, nos moldes de Las Vegas.
Acontece que essa promessa nunca é cumprida. Chegamos no ano do De Volta Para o Futuro II e não existem carros nem skates voadores, não existem hologramas, ainda vemos a grama e nossas empregadas domésticas são negras, latinas (no caso dos EUA) e pobres, não robôs (embora que para os olhos de muitas madames do Batel e de Berverly Hills não faça muita diferença).
Se questionamos o porquê dessas promessas de um mundo melhor garantido pela tecnologia nunca chegar a resposta é que ainda não chegamos, perguntamos no tempo errado. Afinal, o Discovery Channel garante: "Fantástico sim, fantasia... não".
Apesar de a tecnologia ser algo extremamente racional, duro, real, temos com ela uma relação não fantástica, mas sim, fantasiosa, e ao extremo. Ao nos deparar com tecnologia, não pensamos nos cálculos matemáticos precisos e complexos nem nos engenheiros e engenheiras e fábricas mecânicas que criam esses objetos, mas pensamos no mundo dos Jetsons, de Marty, da Discovery. Não apenas pensamos, mas agimos assim. Apertamos mais forte o controle remoto da TV quando falta bateria, sem nenhum motivo lógico para isso.
E existe um motivo para o qual não existem carros voadores: as pessoas compram carros que não voam. Compram gasolina e álcool combustível. Grandes capitalistas extraem petróleo (até fazem guerras por isso). Latifundiários plantam cana de açúcar.
Parece que o melhor slogan para esse futuro que nunca chega, presente castrado, seria: Fantástico não, fantasia... sim.
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