A VERDADE ESTÁ LÁ FORA

De modo geral, todos sabem que a verdade é relativa. Embora o vermelho seja vermelho; para um daltônico, vermelho é apenas mais um tom de cinza. É verdade que vermelho é vermelho para um, mas também é verdade que vermelho é cinza para outro - conceitos opostos que não se anulam ou contradizem, pois são relativos. A verdade é, portanto, relativa, subjetiva, quando individualizada.
Mas há também uma verdade mais fundamental no caso - ambos enxergam o objeto, seja de forma vermelha ou de forma cinza. Eis a totalidade em questão, a verdade universal no universo dos dois, e ela somente pode ser coletiva. Se fossem três, e o terceiro fosse cego, a verdade seria mais fundamental, mais absoluta - nesse caso, para os três o objeto existe, independente da cor, ou então, os três têm olhos, etc.
Individualmente, não há verdade absoluta. Fechada em si mesma, tem como fundamento ela própria, ou um a priori paranóico; ampliada num contexto social, o fundamento é coletivo e, portanto, histórico - aqui, a verdade é universal.
A negação pós-moderna da totalidade, para eles opressora, é uma afirmação, um retorno ao individualismo (é curioso que os críticos da modernidade reivindicam o individualismo e o subjetivismo ao mesmo tempo em que o criticam de forma extremada). A própria verdade se torna opressão, tudo de absoluto é, em si, prejudicial. Apesar de seu preconceito contra a política, a gênese dessa posição pós-moderna é uma clara reação política.
A oposição às sociedades coletivistas, ao socialismo real em especial, nega, por decorrência, o absoluto, a totalidade - os pós-modernos se opõem a Marx, mas também ignoram completamente Hegel (como lhes é próprio, nunca discutindo o mérito). A verdade é para eles opressora somente porque ela só é possível coletivamente, e não o contrário (a verdade é opressora, portanto as sociedades colevistas também o são).
Não se disputa mais o conceito de verdade, pois ao procurar qual é a verdade, encontra-se certamente o caminho da necessidade da transformação. Outra verdade é insustentável, pois a única verdade absoluta é a coletiva e histórica. A reação, portanto, não busca mais (à la Goebbels) disseminar como verdade uma mentira, pois essa "tem pernas curtas", num mundo onde tudo é extremado e onde o sólido se torna mais sólido e, dessa forma, se torna mais facilmente dissolúvel no ar; mas sim, ocultar a própria existência de uma verdade.
A expressão mais clara disso é o real poder dos meios de comunicação em massa. É dito no senso comum, inclusive no senso comum acadêmico, que os meios de comunicação representam um "quarto poder" na sociedade, ou, que eles são a causa da letargia social e da "imbecilização" do povo sem cultura, etc. Porém, não é bem assim que as coisas ocorrem. Dois fatos que desmentem esse tipo de poder/controle são as eleições de 2002 (e 2006) de Lula e o referendo do desarmamento. Em ambos os casos, a posição, escancarada de toda a mídia, pendente a um dos lados da questão (anti-Lula, pró-desarmamento) não adiantou para conformar a opinião pública.
O verdadeiro poder da mídia não é sua opinião, mas sobre o que ela opina ou deixa de opinar - é a censura. Quantas vezes assistimos o telejornal e vemos apenas notícias sobre moda, culinária, festas e feriados, trânsito, previsão do tempo e, no máximo, uma notícia sobre um buraco no asfalto de uma rua qualquer. As opiniões reacionárias sobre questões políticas não tem efeito, pois as próprias questões não são vinculadas, não se chega nesse segundo nivel, para se ter uma opinião, é preciso saber do fato, mas conhecer esse fato é perigoso, é o próprio perigo.
Um exemplo recente é curioso: em um jogo de futebol, um jogador de um time xingou o jogador do outro time de "macaco", num claro ato de racismo, visto por todos, mostrado claramente na TV. A apresentadora de um programa de futebol de âmbito nacional (no canal Bandeirantes), ao se referir ao fato comentou algo do gênero: vamos deixar isso pra lá, a história já passou, vamos falar de futebol... Essa é a postura da mídia que realmente é reacionária, num ato de extrema obcenidade, a questão política é completamente anulada, nem numa questão em que é politicamente correto criticar o ato racista do jogador, o racismo é ocultado, vamos falar de futebol.
O que é verdade?
A investigação só pode levar à questão do racismo, é impossível perguntar qual é a verdade e não entender o racismo como problema e a necessidade de mudança. A postura revolucionária quanto à verdade já é a simples propositura de questões. E as respostas não são concebidas de forma individual, apenas fora do indivíduo. Como ficou famoso no seriado Arquivo X, a frase socialista sobre a verdade nos dias extremos (até diria, extraterrestres) de hoje abaca sendo: "a verdade está lá fora".

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